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Os novos emigrantes portugueses

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O Português nunca teve medo de sair do seu país, à procura de condições melhores. Fosse pela sua ambição no tempo das Grandes Descobertas e pela sua sobrevivência, a emigração sempre foi encarada de forma quase natural. Na década que seguiu a crise despoletada em 2008, os Portugueses encontraram novamente razões para saírem do país…

Portugal foi, ao longo da segunda metade do século XX, um país de emigração. Décadas de ditadura e de atraso económico ditaram as histórias de muitos emigrantes portugueses. A atratividade e proximidade das poderosas economias do norte europeu, chamou a si centenas de milhares de portugueses.

Com a entrada de Portugal na CEE e o consequente desenvolvimento económico, a emigração abrandou fortemente, o país conseguindo cada vez mais oferecer perspetivas de futuro aos seus nacionais. Mas com o despontar da crise de 2008, tudo iria mudar nos anos seguintes.

Emigração jovem

A economia portuguesa, cada vez mais globalizada e endividada não conseguiu resistir a uma crise provocada pelos “subprimes” americanos. A reação em cadeia que provocou o pânico bancário acarretou inúmeras dificuldades ao tecido económico português. Estas dificuldades traduziram-se rapidamente no aumento da taxa de desemprego, que de 7,6% em 2008 disparou até ao máximo de 16,2 em 2013 segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

Este alto nível nacional de desemprego atingiu principalmente os jovens, chegando em 2013 a atingir uma taxa de 38,1% dos menos de 25 anos. Jovens que, ao contrário do que acontecia pelo passado, tinham agora cada mais formações facilmente valorizáveis no estrangeiro. Tomando em exemplo os anos 2000 e 2001, só 6% dos que emigraram tinham instrução superior, a comparar aos 11% de 2010/2011.

Este forte aumento do número de emigrantes com educação superior acompanhou o aumento nacional. Do início dos anos 1990 até 2019, o número de portugueses com ensino superior praticamente triplicou. Com uma população mais culta, mais bem informada e à escuta das oportunidades agora facilmente atingíveis pela Internet, sem mesmo os entraves das fronteiras no seio do espaço Schengen, facilitaram grandemente a emigração.

Emigração para a Europa

E é neste contexto de uma Europa sem fronteiras que devemos analisar a emigração portuguesa dos anos 2010. Se em 2000, 1.301.084 emigrantes portugueses residiam na Europa, este número aumentaria em 2017 para 1.502.151, passando a sua proporção na globalidade dos emigrantes portugueses de 59,8% para 66,3. 200 mil nacionais saíram assim do país, à procura de melhores condições.

Este facto coloca Portugal nos países europeus onde mais se emigra, sendo só ultrapassado no seio da União Europeu por Malta. A taxa de emigração portuguesa era de 21,9% em 2017, a comparar com os 24,4% de Malta no mesmo ano.

A Europa é, cada vez mais destacadamente, o primeiro destino da emigração portuguesa. No mesmo período, o número de emigrantes no continente americano sofreu uma forte quebra, passando de 37,5% do global dos emigrantes em 2000 para 26,1% em 2017. Esta emigração americana foi substituída nos dados estatísticos por uma nova emigração nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP).

Com a melhoria económica portuguesa iniciada em 2014 e a consequente baixa do desemprego, a emigração também começou a abrandar. A emigração portuguesa continua de ser, tal como durante a segunda metade do século XX, essencialmente económica.

Reino Unido, destino favorito

O primeiro destino europeu desta “nova” emigração portuguesa foi o Reino Unido. A baixa taxa de desemprego britânica, a facilidade da língua e a proximidade europeia funcionaram como poderosos meios de atração. Este país continua a ser, apesar da sua saída do espaço europeu, o destino favorito dos portugueses. O “Brexit” veio, porém, abrandar esta preferência, notando-se já em 2019 por comparação com 2018.

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O Reino Unido é hoje o primeiro destino da emigração portuguesa

Em segundo lugar, a Espanha. A sua proximidade geográfica é determinante na escolha dos portugueses. A integração das duas economias, cada vez mais vincada no decorrer deste início do século XXI facilitou a saída de nacionais para o país vizinho. Apesar da crise económica que abalou também fortemente a Espanha, a emigração continuou, ainda que em números bem inferiores ao período pré-crise. Compara-se os 27 mil portugueses que emigraram para Espanha em 2007 com os 5300 em 2013, no ano mais severo da crise económica. Com a melhoria sentida desde 2014, a emigração voltou sempre a subir, confirmando o movimento anterior a 2008, se bem que em menor escala. Ao contrário do que aconteceu com os países do norte europeu, a emigração para Espanha foi menor depois da crise do que antes.

Nas escolhas de países seguintes, seguem países que sempre foram tradicionalmente destinos da emigração portuguesa. Suíça, França, Alemanha e Luxemburgo. Nestes países, verifica-se o mesmo movimento do que no Reino Unido, com um forte aumento a partir de 2010.

O impacto da emigração portuguesa nos países de destino, geralmente muito mais populosos do que Portugal, é marginal. Os portugueses só representaram por exemplo 3% das entradas de estrangeiros no Reino Unido em 2018 e 1,4% em Espanha.

Portugal também recebeu emigrantes

Portugal não foi só um país de emigração. Nacionais de países com ainda mais dificuldades económicas escolheram Portugal como destino de emigração. Foi o caso de muitos Brasileiros, primeira comunidade estrangeira de Portugal, destacadamente. Os lugares agora deixados vagos pelos portugueses que partiram foram assim parcialmente ocupados por esta mão de obra estrangeira.

Portugal enfrenta hoje dificuldades provocadas pela emigração de profissionais formados e da falta que fazem. O caso da falta de enfermeiros em Portugal é simbólico da emigração portuguesa dos anos 2010, que a imigração não consegue compensar.

Bibliografia

  • MAIA, Ana – Número recorde: mais de quatro mil enfermeiros pediram para emigrar. Público [Em linha] (2019). [consult. 01 abr. 2020]. Disponível em https://www.publico.pt/2020/01/23/sociedade/noticia/numero-recorde-4000-enfermeiros-pediram-declaracao-emigrar-1901431
  • Observatório da Emigração [Em linha]. [consult. 01 abr. 2020]. Disponível em http://observatorioemigracao.pt/
  • PORDATA – Base de dados Portugal Contemporâneo [Em linha]. [consult. 01 abr. 2020]. Disponível em https://www.pordata.pt/

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