Mosteiro dos Jerónimos
Mosteiro dos Jerónimos

Mosteiro dos Jerónimos, apogeu da Arte Manuelina

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Uma das maiores realizações das Grandes Descobertas ainda pode ser vista hoje em dia, o Mosteiro dos Jerónimos.

Lisboa, capital de Portugal, conheceu todo o tipo de influencias, vindas dos quatro cantos do mundo. Quando o país fazia comércio com todo o planeta, a cidade construía magníficos monumentos.

Com Dom Manuel I, Portugal atinge o seu apogeu, controlando o comércio mundial. O dinheiro era muito, os europeus procuravam os produtos que os portugueses traziam do outro lado do mundo.

Mosteiro dos Jerónimos
Mosteiro dos Jerónimos

Para aqueles que gostam de relembrar a grande época dos Descobrimentos, onde um punhado de marinheiros, em pequenos barcos de madeira foram à procura da fortuna nas Índias, nas Américas ou na China, Belém em Lisboa é sem duvida o sitio ideal. Fica no extremo ocidental da cidade de Lisboa, um bairro com muitos monumentos de primeira importância.

Por sorte, a sua situação periférica em relação ao centro de Lisboa talvez permitiu a sua salvaguarda do grande terramoto de 1755. Será em Belém que poderemos ter uma ideia do que foi Lisboa no tempo do seu esplendor, no tempo em que o rei não se poupava em construções formidáveis. O mosteiro, obra central de Belém é o símbolo por excelência da riqueza de Portugal no século XVI: para construir tal edifício, apenas foi preciso do dinheiro dos impostos sobre a pimenta!

Torres do mosteiro
Torres do mosteiro
Mosteiro dos Jerónimos
Porta sul, obra prima do Gótico Tardio

Acho que já percebeu, o Mosteiro dos Jerónimos é de visita obrigatória. Para lá ir, nada melhor do que pegar no elétrico, rápido e eficaz desde o centro da cidade. Impossível de falhar a paragem, atendendo ao tamanho imponente do edifício. Situado à beira do Tejo, algumas infraestruturas modernas estragam a sua localização: talvez seja o preço a pagar para termos uma linha de comboios, que separa o mosteiro da beira rio, onde encontra-se o outro grande monumento das Descobertas, a Torre de Belém

De qualquer forma, não é o espaço que falta, e a fabulosa Praça do Império, com a sua fonte de proporções gigantescas realça a perspetiva que podemos ter do mosteiro. Quando se desce do elétrico, ficamos impressionados com a brancura dos muros que se recortam  no azul do céu. Toda a cidade de Lisboa está vocacionada para a luz, estes raios de sol tão característicos do sul da Europa.

Aqui, a sensação de espaço, à mistura com esta luminosidade tão única cantam a grandiosidade, trazendo-nos à memória os tempos antigos, quando os barcos descarregavam em Lisboa as suas riquezas.

Pormenores das torres de estilo manuelino
Pormenores das torres de estilo manuelino
Podemos ver a rosacea do exterior
Podemos ver a rosácea do exterior

História do Mosteiro dos Jerónimos

Tudo começa com a descoberta por Vasco da Gama do caminho marítimo para as Índias, o que permite libertar finalmente o comércio europeu das pesadas taxas impostas pelos Árabes. Era preciso, antes de Vasco da Gama, passar por territórios controlados pelos muçulmanos. Para festeja este feliz acontecimento, o rei Dom Manuel I pediu ao papa a autorização de construir um grande mosteiro.

A construção será iniciada em 1502, com este mosteiro dedicado à Santa Maria de Belém. O mosteiro, desejado pelo rei Dom Manuel I, iria doravante ser ocupado pelos monges da ordem de São Jerónimo. O sitio ideal para construir o novo edifício seria a Praia do Restelo, um sitio onde todos os barcos que entravam ou saiam de Lisboa podiam ver. Já existia no lugar uma capela, a Ermida do Restelo, construída pelo Infante Henrique. Neste lugar estratégico, os monges da ordem de Cristo podiam dar assistência aos peregrinos de passagem.

Vasco da Gama e os seus homens tinham rezado neste lugar em 1497, mesmo antes de efetuarem a grande expedição para a Índia.

Igreja Santa Maria Belém
Igreja Santa Maria Belém

O arquiteto escolhido foi Diogo Boitaca, um dos principais artesãos do estilo que chamamos hoje de Manuelino, de Dom Manuel. Antes de vir para os Jerónimos, Boitaca já tinha feito as suas provas no Mosteiro de Jesus em Setúbal. O seu bom trabalho permitiram-lhe seguramente obter os favores do rei, que lhe confiou a construção mais prestigiosa da sua época.

Já vos tinha falado sobre Boitaca, e da sua contribuição para o Claustro do Mosteiro da Batalha! Boitaca (ou talvez Boytac) trabalhou nas obras lisboetas até ao ano de 1516, ano em que ele mudou-se para as obras da Batalha. Para o suceder em Lisboa, foi o seu assistente espanhol João de Castilho que foi escolhido. Será preciso esperar um século para que o mosteiro fique completo, sucedendo-se, depois de João de Castilho, os arquitetos Diogo de Torralva e Jérôme de Rouen (ou Jerónimo de Ruão).

O claustro, obra de Diogo Boitaca e de João Castilho, foi terminado em 1544
O claustro, obra de Diogo Boitaca e de João Castilho, foi terminado em 1544
Uma coluna tipicamente manuelina
Uma coluna tipicamente manuelina
Os confissionais do claustro
Os confissionais do claustro

A escolha do sitio para a construção do mosteiro, numa praia em terreno arenoso, é talvez uma das explicações dos poucos danos sofridos devido ao terramoto de 1755. De qualquer forma, os dormitórios foram atingidos, e reconstruídos. Foram transformados no século XIX.

Podemos lá encontrar hoje em dia o Museu da Marinha e o Museu Nacional de Arqueologia, onde se pode descobrir os tesouros encontrados nas diferentes pesquisas em todo o território português, indo da Idade do Bronze até ao período Visigótico. Apesar de tudo, os danos provocados pelo terramoto foram benignos se compararmos aos provocados pelo exercito napoleónico no inicio do século XIX.

Claustro do Mosteiro
Claustro do Mosteiro

Em 1833, com o fim das ordens monásticas em Portugal, os religiosos que ocupavam o lugar há 400 anos tiveram que sair, o mosteiro sendo doravante propriedade do estado. Foram substituídos pela Casa Pia até aos anos 1940. A importância do edifício na sua totalidade, bem como a Torre de Belém, não escapou à UNESCO, que declarou em 1983 o Mosteiro dos Jerónimos “Património Mundial da Humanidade”.

Este estilo gótico tão especial parece renda
Este estilo gótico tão especial parece renda

Arquitetura do Mosteiro dos Jerónimos

O estilo arquitetónico dominante é o gótico tardio, aqui na sua forma Manuelina, uma arquitetura tipicamente portuguesa no inicio do século XVI, correspondente ao reinado de Dom Manuel I: de 1495 até 1521. A arquitetura manuelina caracteriza-se por uma profusão de decorações evocando os Descobrimentos, o mar e os símbolos de Portugal. Assim, não é raro ver cordas de pedra, conchas e pormenores finos, dando ao gótico as suas ultimas maravilhas.

Quando se chega ao mosteiro, é impossível falhar a imponente Porta Sul, que se destaca pelos seus pormenores na parede imaculada da igreja do mosteiro. Esta porta, obra de João de Castilho, é monumental pelo seu tamanho, mas principalmente pelas suas esculturas. Podemos aí ver o Infante Henrique, principal instigador das Descobertas marítimas portuguesas.

As proporções da igreja e as suas três naves são generosas
As proporções da igreja e as suas três naves são generosas

A Porta Ocidental, por onde o publico entra na igreja é outro dos tesouros do Mosteiro. Os pormenores são legião, as esculturas finas e  detalhadas. Podemos lá encontrar o rei Dom Manuel I e Dona Maria ajoelhados em oração, assim como São Vicente, padroeiro de Lisboa e os apóstolos. Uma vez passada a porta monumental, entramos na Igreja de Santa Maria de Belém.

Nesta igreja, podemos encontrar os túmulos das maiores figuras da história marítima de Portugal, que marcaram para sempre a história europeia e mundial. Sem medo, podemos afirmar que o Vasco da Gama é considerado pelos portugueses como sendo o maior marinheiro de todos os tempos! É aqui que ele têm o seu tumulo monumental, só igualado pelo do grande autor das Lusíadas, Luis Vaz de Camões, do outro lado da igreja. Estes túmulos são tardios, esculpidos no século XIX por Costa Mota. Muitas das belas esculturas originais do mosteiro são da autoria do francês Nicolau Chantereine, que viveu a maior parte da sua vida profissional em Portugal.

Cada coluna do claustro foi finemente esculpida
Cada coluna do claustro foi finemente esculpida
Animais fantásticos servem de decoração de pedra do mosteiro português
Animais fantásticos servem de decoração de pedra do mosteiro português

Igreja de Santa Maria de Belém

A arquitetura desta imponente igreja é mesmo original e única. Para começar, a escolha do gótico tardio, e esta Igreja-Salão, onde as naves são todas da mesma altura e largura, que se encontram mais vezes na Alemanha do que na península ibérica. Depois, a Arte Manuelina atinge aqui o seu auge.

A primeira impressão que tive quando olhei para esta profusão de colunas finamente esculpidas, no jogo de sombras e luzes dos vitrais, foi de me encontrar nalguma floresta tropical. Impressão curiosa, mas justificada, não podemos esquecer que o Estilo Manuelino evoca os Descobrimentos marítimos, e por conseguinte os países explorados pelos portugueses, com estes pormenores marinhos, mas também estas esculturas em forma de raízes, de plantas…

Tumulo do rei D. João III e de D. Catarina, suportada por elefantes
Túmulo do rei D. João III e de D. Catarina, suportada por elefantes
Ao fundo, na capela, o tumulo de um rei
Ao fundo, na capela, o túmulo de um rei

A igreja serve de necrópole real, com os túmulos dos principais reis dos Descobrimentos, de Dom Manuel até Dom Sebastião, e respetivas esposas. Os seus túmulos também relembram países longínquos, basta olhar para os elefantes esculpidos onde repousam…

Capela-mor
Capela-mor
Altar e capela-mor, onde se encontram as pinturas de Lourenço de Salzedo
Altar e capela-mor, onde se encontram as pinturas de Lourenço de Salzedo

A Capela-mor, ou capela principal, é mais tardia, do fim do século XVI.  Concebida por Diogo de Torralva e construída por Jerónimo Ruão, já não é de estilo Manuelino, mas de estilo maneirista. Tudo aqui foi feito com mármores policromos.

Os quadros, representando cenas da Paixão de Cristo, foram pintados por Lourenço de Salzedo, também no final do século XVI. O sacrário foi ele concebido entre 1674 e 1678. Feito todo de prata, foi oferecido pelo rei Dom Afonso VI para agradecer a Deus pela sua vitória dos Montes Claros de 1665, batalha decisiva que assentou definitivamente a independência de Portugal em relação à Espanha.

Nave principal, com o Coro-Alto
Nave principal, com o Coro-Alto

O Coro-Alto é um segundo coro da igreja. Tal como o nome indica, fica em altura, dominando as naves. Podemos lá ver quadros representando os apóstolos. Da dúzia de quadros que lá estavam, faltam dois, perdidos durante o terramoto de 1755. O autor dos quadros não é conhecido. Era aqui que os monges encontravam-se para cantar e orar, esperando pela finalização no século XIX da Sala do Capitulo.

O Cristo na cruz, no Coro-Alto
O Cristo na cruz, no Coro-Alto
O Coro-Alto
O Coro-Alto

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos

O claustro é a obra prima do mosteiro, terminado em 1544. É aqui que se vêm em primeiro lugar. Ao contrário da igreja, a entrada não é gratuita. Não existe pequenos lucros, este dinheiro é obviamente utilizado para se fazer os numerosos trabalhos de restauro e de manutenção que um tal monumento necessita.

Que alegria de encontrar aqui um sitio de sossego, todo inteiro vocacionado à reflexão, mesmo quando cheio de turistas! Enfim, “cheio” é aqui muito relativo, nunca estamos submersos por máquinas fotográficas ou gritarias. O primeiro nível do claustro é da obra de Boitaca, o segundo nível da obra de João de Castilho. O Claustro é harmonioso, e foi concluído por Diogo de Torralva. João de Castilho era espanhol, e é naturalmente que encontramos nas suas obras influencias do plateresco espanhol. Também é no claustro que podemos encontrar o tumulo de Fernando Pessoa, datando de 1985.

Galerias superiores do claustro
Galerias superiores do claustro
A decoração manuelina é muito trabalhada
A decoração manuelina é muito trabalhada

A importância do edifício e das suas numerosas partes, como a Sacristia, Sala do Capitulo, biblioteca (com a sua exposição permanente sobre a História de Portugal…) vão ser alvo de próximos artigos no “Descobrir Portugal”. Basta pensar que o pastel de nata foi criado por monges vindos deste mosteiro para se compreender toda a importância deste monumento para os portugueses, sem contar o símbolo nacional que ele representa.

Fotos do Mosteiro dos Jerónimos

O tecto à saida da biblioteca é pintado
O tecto à saida da biblioteca é pintado
Atrás do mosteiro, uma biblioteca
Atrás do mosteiro, uma biblioteca
Biblioteca do mosteiro, com uma exposição sobre a História de Portugal
Biblioteca do mosteiro, com uma exposição sobre a História de Portugal
Retratos dos soberanos portugueses
Retratos dos soberanos portugueses
Galerias inferiores do claustro
Galerias inferiores do claustro
Pormenor de uma coluna, com as armas de Portugal
Pormenor de uma coluna, com as armas de Portugal
Abóbada em cruzaria de estilo manuelino
Abóbada em cruzaria de estilo manuelino
Tumulo de Luis de Camões
Tumulo de Luis de Camões
Vitrais do Mosteiro dos Jerónimos
Vitrais do Mosteiro dos Jerónimos
As colunas dão uma sensação de floresta tropical…
As colunas dão uma sensação de floresta tropical…
Armas de Portugal
Armas de Portugal
Pequeno orgão da igreja
Pequeno orgão da igreja
Muitos fiéis podem assistir às missas
Muitos fiéis podem assistir às missas
Tumulo de Vasco de Gama
Tumulo de Vasco de Gama
Arquitetura original, com as suas abóbadas em cruzaria muito trabalhadas
Arquitetura original, com as suas abóbadas em cruzaria muito trabalhadas

Conversa

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