A maior sinagoga da península ibérica encontra-se no Porto. Foi a obra de uma vida, a do capitão Barros Basto.
O avô de Artur Carlos de Barros Basto revelou ao neto que eram descendentes de Judeus. Judeus que tiveram que viver na clandestinidade durante séculos após a ordem de expulsão de Portugal em 1496…
Expulsão de Portugal
Contudo, os Judeus viviam em Paz. Presentes no território desde há pelo menos 1000 anos, sentiam-se profundamente Portugueses. Mas levado pelo integrismo religioso vindo de Espanha, o rei D. Manuel por sua vez forçou os Judeus a converterem-se ou a deixarem Portugal… Apesar de tudo, muitos ficaram.
Tudo se acelerou com o massacre de Lisboa em 1506. Acusados de terem provocado a epidemia de peste, foram massacrados pelos Cristãos durante 3 dias na ausência do rei. No seu regresso, D. Manuel foi exemplar, punindo os criminosos. Alguns perderam todos os seus bens, outros foram condenados à morte.
Mas o mal estava feito.
Um século depois, não havia mais Judeus em Portugal. Os descendentes dispersaram-se para onde estariam em segurança. Os que ficaram viveram na clandestinidade, até ao século XIX, onde finalmente, podiam novamente celebrar a sua Fé sem medo de serem perseguidos. Aos poucos, estes “cripto-Judeus”, Judeus escondidos, saíram da clandestinidade.
Capitão Barros Basto
Barros Basto, natural de Amarante, ficou logo fascinado pelas suas origens judias. Mobilizado durante a Primeira Guerra Mundial, lá demonstrou grande coragem e lá ganhou os seus galões de capitão.
Foi em autodidata que estudou o hebreu. Depois, partiu para Marrocos, para lá converter-se oficialmente ao judaísmo. Circuncidado, toma o nome de “Abraham Israel Ben-Rosh“. De volta a Portugal, decide dedicar-se inteiramente à comunidade judia.
Uma grande sinagoga
A primeira sinagoga não era mais do que um apartamento no Porto. Apesar dos poucos Judeus, o Capitão decide construir uma grande sinagoga com as 19 famílias asquenazes e a sua família sefardita. Um projeto que parecia na altura muito ambicioso para tão pouca gente.
Mas a intenção era de fazer da futura sinagoga um “farol religioso” para os cripto-Judeus portugueses. A sinagoga devia voltar a dar-lhes orgulho nas suas origens, e ajudá-los a darem a cara. A primeira pedra foi colocada em 1929, mas por falta de dinheiro, a sua construção foi adiada. Foi neste contexto que os riquíssimos irmãos britânicos Kadoorie ajudaram com um importante donativo.
Suspeito de ser um opositor do regime de Salazar, Barros Basto foi perseguido em 1937 e privado do seu prestígio militar. Injustamente acusado de imoralidade, transformou-se num autêntico “Dreyfus português”. Mas isso não o impediu de ajudar nos anos seguintes centenas de Judeus a encontrarem um abrigo das atrocidades da guerra e do holocausto.
A sinagoga Kadoorie Mekor Haim foi inaugurada em 1938. A vontade dos seus promotores era de fazer um edifício profundamente judeu, mas também profundamente português. Foi naturalmente que se utilizou 20 000 azulejos pintados à mão para embelezar a sinagoga.
O edifício religioso obedece às regras ortodoxas. Durante as cerimónias, os homens ficam em baixo, e as mulheres em cima. A comunidade do Porto, feliz por ter o seu ponto de encontro, atravessou momentos complicados, por vezes irónicos durante a Segunda Guerra Mundial… é que a sinagoga tem como vizinha… a escola alemã do Porto! As árvores que podemos ver hoje foram plantadas nos anos 1940, para que as crianças alemãs não vissem os Judeus…
Hoje, a comunidade judaica do Porto é composta de 400 membros, de mais de 30 nacionalidades diferentes. Para além do culto, a sinagoga também se ocupa dos certificados estabelecendo a ascendência judaica portuguesa. O estado português, para corrigir a expulsão dos Judeus do passado permite aos seus descendentes pedirem a nacionalidade portuguesa. Como uma “reparação” por tamanha injustiça cometida pelas autoridades portuguesas de antigamente…