Portugal dos Pequenitos
Portugal dos Pequenitos

Portugal dos Pequenitos

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Quando eu era garoto, eu descobria o país com os meus pais. Mas não podíamos ir a todo o lado, os nossos recursos eram limitados.

Então, íamos em família até Coimbra, num sítio onde se podia visitar Portugal de norte a sul, sem esquecer os Açores ou a Madeira. Era um lugar mágico para a criança que eu era, com um nome que dizia tudo: Portugal dos Pequenitos. Este nome só por si tinha muito significado, era um lugar especialmente só para mim!

É um pouco o antepassado da Disneylândia…

Mas em vez de carrosséis, temos miniaturas de casas. Casas do Alentejo, do Algarve, do Norte… de toda a parte e até do antigo império colonial português. Quando és uma criança, é mesmo muito fixe descobrir isto tudo, de ver que noutros sítios em Portugal, as casas podem ser bem diferentes das que eu conhecia…

Universidade de Coimbra em miniatura...
Universidade de Coimbra em miniatura…

Para além das casas, os principais monumentos foram reproduzidos. Por vezes fielmente, outras vezes misturando-os. Podemos assim apreciar uma colagem da Sé de Lisboa à Praça do Comércio… o que pode ser um pouco estranho. Quando tens 8 anos, esta estranheza até que nem é a tua prioridade, sendo melhor brincar aos gigantes nestas casas de bonecas, com a esperança que o pai te leva no comboiozinho ou te pague um gelado…

A gente diverte-se, com a possibilidade de aprender um pouco de geografia, mas também muita História. Encontramos por exemplo uma importante coleção de bonecos, todos representando uma grande personagem da História. Aqui um Dom Afonso Henriques, ali um Marquês de Pombal…

É uma mistura de realismo histórico com um pouco de fantasia romântica e idealista, do tempo em que o “Portugal dos Pequenitos” foi construído. Para uma criança, é mesmo fantástico…

Agora, para um adulto, vê-se outras coisas…

Quando passamos os portões da entrada, podemos ficar pouco à vontade com as grandes estátuas africanas, no puro estilo colonialista. O que será que estão cá a fazer?

É preciso voltar ao ano de 1940, data da inauguração do parque. Naquele tempo, as colónias eram vistas como sendo “Portugal”, e queria-se mostrar os benefícios do colonialismo português. Estamos em plena ditadura, com Salazar no comando.

O homem por detrás deste parque temático era um dirigente do partido único, o senhor Bissaya Barreto. Ele era o rosto social do regime. Contribuiu à criação de numerosos hospitais, de colónias de férias, d’ajudas para a infância e aí por diante…

Busto de Bissaya Barreto
Busto do fundador na entrada do parque…

Ele era mesmo um bom amigo do presidente do Conselho de Ministros. Ele era o médico da mãe de Salazar, e ao que parece, até lhe tinha salvo a vida!

Tendo Bissaya Barreto estudado em Coimbra, foi logicamente que ele escolheu esta cidade para o seu projeto pedagógico. Era preciso mostrar o ideal do “Estado Novo”, o “Deus, Família e Pátria” de Salazar às crianças. Mas era preciso fazê-lo de maneira divertida.

O Portugal dos Pequenitos queria ser lúdico, tanto quanto educativo

E ainda o é, mesmo se hoje é necessário repor no seu contexto algumas coisas. Um grande trabalho para os pais! Uma boa ideia seria de começar pela música que ouvimos em permanência no parque, e que ouvimos no nosso vídeo. Hoje em dia, este tipo de música cheira um pouco a mofo… e ao ideal do regime.

Esta música desatualizada até dá um certo charme ao espaço, como um regresso ao passado.

Entrada do parque
Entrada do parque

As ligações evidentes do Portugal dos Pequenitos com o antigo regime de Salazar fazem dele o mais polémico espaço de diversão e pedagogia de Portugal. Mas afinal… porque não? Desde que lá se possa aprender um pouco de história e de geografia! O essencial será mesmo de despojar o parque de tudo o que poderá ser percebido negativamente hoje em dia.

A fundação Bissaya Barreto que gere o parque é nos nossos dias uma instituição de utilidade pública e de solidariedade social, reconhecida por todos. O trabalho da fundação não tem polémicas. Pelo menos, que eu saiba!

Eu vinha com os meus pais, mas muitas escolas vêm para aqui com os seus alunos.

Não se pode negar o sucesso do Portugal dos Pequenitos. Todos os anos, são centenas de milhares de visitantes que vêm ver as pequenas casas e os monumentos miniatura. É preciso salientar que tudo foi muito bem feito e pensado, mesmo que começando a ser um pouco antigo. As casas tradicionais regionais já quase só existem nos livros, as novas construções não respeitando quase nunca a arquitetura antiga…

Felizmente, o espaço evolui, e periodicamente são adicionadas novas atrações. É o caso das casas de xisto, que podemos apreciar em algumas das mais belas aldeias do país.

Mas todo este sucesso incomoda, os mais anti-salazaristas querendo mesmo a sua destruição. Têm medo de que o Portugal dos Pequenitos seja outra vez um espaço de propaganda destinado às nossas crianças, com uma ideologia nacionalista de outro tempo.

Então perguntamos: será preciso deitar abaixo o Portugal dos Pequenitos?

Sinceramente, é preciso não exagerar, mesmo se os restos da propaganda colonialista incomoda. Tudo não é mau! Para mais, existe novos projetos para atualizar o parque e contextualizar um pouco melhor o que existe hoje. É importante que uma criança não fique a pensar que em Africa as pessoas passeiam de tanga…

Portugal dos Pequenitos
Seria uma pena perder esta viagem em miniatura por razões ideológicas…

Em breve, novos pequenos monumentos vão mostrar-nos o Portugal atual, com edifícios modernos e emblemáticos. Portugal não é só casas tradicionais! Poderemos ver o CCB ou a Casa da Música por exemplo. O objetivo final, respeitando a vontade do fundador, é que ao sair do Portugal dos Pequenitos, a criança fique a saber um pouco mais sobre Portugal, passado ou atual, das suas regiões e dos países da lusofonia.


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