Quando pensava-se em Lisboa alguns anos atrás, tinha-se em mente uma cidade agarrada ao seu passado, com pequenas ruas, com roupa estendida no cordel à secar entre dois prédios.
Esta imagem ainda é verdadeira, com bairros emblemáticos da cidade, onde a História ainda está viva. Mas Lisboa também é uma cidade moderna, virada para o futuro. Um dos meus lugares favoritos da cidade, onde os maiores arquitetos da atualidade participaram é o Parque das Nações. Construído para a Expo 98, este lugar representa o que se faz de melhor em termos de arquitetura moderna.
Lisboa sempre foi uma cidade moderna, ao contrário do que se poderia pensar, quando comparada às outras cidades do sul europeu, várias vezes milenares. Quando aconteceu o grande terramoto de 1755, o Marquês de Pombal tinha construído de novo a baixa Pombalina segundo princípios modernos. Desde então, Lisboa nunca mais negou esta herança, até mesmo durante o Salazarismo.
Expo 98
Tudo começou com um projeto de uma exposição universal em Portugal. A Expo 98, dedicada aos oceanos, tinha que ser fantástica, e ser uma ocasião única de requalificar uma zona de Lisboa degradada por uma industria que estava a morrer.
Situada a leste da cidade, o antigo porto de Lisboa estava ao abandono há vários anos, tinha-se que fazer qualquer coisa. A Expo 98 iria ser a oportunidade unica para Portugal mostrar ao mundo as suas qualidades e a sua modernidade, após anos de imobilismo.
Os melhores arquitetos mundiais participaram na elaboração do mais belo exemplo de urbanismo moderno português. Nomes conhecidos hoje internacionalmente como Eduardo Souto de Moura ou Siza Vieira, são dois vencedores do prémio Pritzker (equivalente ao prémio Nobel para à arquitetura).
Santiago Calatrava, o celebre arquiteto espanhol, concebeu a Gare do Oriente, que é o que se faz de melhor em estações de comboio multi-modais: os comboios juntam-se aos autocarros, táxis e metro, tudo no mesmo sitio.
O espaço, outrora degradado, com uma refinaria, matadouros industriais ou uma estação de tratamento de águas residuais, é hoje uma zona nobre de Lisboa, com 5 kms à beira do Tejo, numa área total de 330 hectares. Da Expo, várias obras arquiteturais, que são icones de Lisboa e de Portugal.
Basta olhar para o Oceanário, um aquário gigante onde coexistem diferentes espécies dos oceanos deste mundo, cada uma no seu elemento, do tubarão ao pinguim. A Torre de Vasco da Gama, com os seus 142m de altura, é o mais alto edificio da cidade. Têm uma das silhuetas mais conhecidas de Lisboa.
Muito conhecido também, o Pavilhão Atlântico, uma grande sala multi-usos, onde se pode assistir a concertos ou ver competições desportivas por exemplo.
Nota: o nome de Pavilhão Atlântico é “vítima” do marketing. Para se ganhar mais dinheiro, dá-se o nome de uma companhia a um edifício conhecido de todos.
Resultado, o Pavilhão Atlântico mudou de nome para Meo Arena e depois para Altice Arena. A bem dizer a verdade, o nome deste pavilhão durante a Expo 98 era “Pavilhão da Utopia”…
O arranjo urbanistico é notável, tudo foi pensado para por em primeiro lugar as pessoas. Passeia-se em largas avenidas pedonais, refrescadas por árvores que, na altura da Expo 98, ainda eram demasiadas pequenas. O trânsito automovel é limitado, nunca caótico.
Saíndo da Gare do Oriente, o primeiro contacto com o Parque das Nações é o grande centre comercial Vasco da Gama. Este espaço comercial é um dos mais bonitos que eu conheço, sem exageros: foi uma ideia fantástica de fazer correr água em permanência sobre o teto transparente. Parece que estamos dentro de uma fonte, fresca e luminosa.
Saíndo pelo outro lado, é o antigo espaço da Expo 98 que começa, com uma gigantesca escultura negra, lembrando uma árvore metálica.
Era neste espaço que ficavam os diferentes pavilhões de exposição de cada país em 1998. A maior parte destes pavilhões era provisória, e foram desmontados desde então.
Especulação
Este novo bairro de Lisboa tinha sido concebido para receber centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo, o que explica a grande qualidade das infraestruturas hoje. Mas claro, nem tudo é perfeito, e a especulação imobiliária fez estragos, como em todo o lado.
Constroi-se, com qualidade sim, mas aumentando cada vez mais a densidade populacional. Alagou-se a Praça Sony, onde faziam-se grandes concertos ao ar livre, para lá meter mais prédios. Deixou-se ao abandono algumas infraestruturas, a pintura começou a estragar-se, enfim, o Parque das Nações está a envelhecer, bem mais rápido do que o previsto.
Esperemos que as autoridades, apesar das crises económicas, saberão conservar o que é um espaço único em Portugal. Nem que fosse só para os vulcões de água, uma ideia original e útil: são fontes que de vez em quando “explodem”, molhando os mais distraídos dos transeuntes.
O Parque das Nações também é hoje um espaço onde se vive, onde as pessoas moram e trabalham, onde vão beber uns copos à noite. Ao longo das docas encontram-se vários bares e restaurantes, onde os lisboetas gostam de vir passar um pouco de tempo com os amigos. Um bairro assim, dá gosto.