A Bajouca, uma aldeia do concelho de Leiria, é muita reputada no país todo pela sua argila. A argila da Bajouca é muito fina, muito clara. Esta característica fez nascer na aldeia numerosas oficinas de olaria.
Fui este verão visitar uma oficina, a olaria do senhor Manuel Pedrosa da Silva, um fabricante de louças de barro.
A oficina encontra-se diretamente num veio de argila branca, esta terra tão procurada pelos oleiros. Podemos ver do exterior uma pequena sala, ou melhor, uma garagem aberta para a rua, onde estão expostas algumas peças da olaria, postas à venda. Para que venham nos responder, é preciso tocar à campainha, os oleiros estando ocupados a trabalhar: são artesãos, fazendo tudo por eles próprios.
Os artesãos são um casal de cinquentões, muito simpáticos, que não hesitam em explicar o que fazem, desde que lhes façamos a pergunta. Estávamos à vontade para explorar a oficina, que é sem duvida uma autentica caverna de Ali Bábá! A oficina está cheia de tesouros de argila, fabricados de uma ponta à outra pelos nossos oleiros.
A olaria está cheia de objetos de todas as qualidades, para todos os usos. Pode parecer que a oficina está desarrumada e desorganizada, mas é só uma impressão 🙂
O que faz viver os nossos artesãos em primeiro lugar, ainda é o utilitário. Acho que é obra, conseguir ainda fazer objetos utilizados no dia à dia, à hora da industrialização, da corrida aos preços mais baratos, em detrimento da qualidade. Também é obra de ainda conseguir fazer tudo em barro, quando as novas matérias como o plástico ou as fibras de carbono estão por toda à parte. Mas também é verdade que as cerâmicas feitas pelo artesanato são tão mais bonitas!
Podemos ver nestas fotos os fornos do oleiro. Podemos ver o carro no primeiro plano, que serve à tirar de uma só vez as louças do forno. Olhando à esquerda do forno, vemos a louça à espera de ser cozida, no seu suporte que também irá ao forno. São fornos elétricos, o que deve mudar bastante dos antigos fornos de carvão ou madeira que os oleiros tinham que utilizar quando eram mais novos…
Nesta foto, podemos ver louça tradicional da Bajouca, com o desenho típico hexagonal. Estes alguidares são ainda hoje utilizados para qualquer uso, desde que se precisa de um recipiente.
No exterior da oficina, podemos ver louças à espera de serem cozidas. Na foto, dá para ver no primeiro plano, em baixo, um mealheiro. Dá para reconhecer, com a fenda em cima do objeto de barro.
Muitos vasos para plantas, de muitas formas: os portugueses gostam bastante de flores e plantas, cada casa das aldeias (e não só) está cheia de plantas. Mas os nossos oleiros não fazem só louça utilitária…
Vários objetos “design” também estão aqui expostos, mudando das habituais formas redondas, características da roda do oleiro. Para estes objetos, o oleiro utiliza moldes especiais.
Muitas destas cerâmicas vão servir para decorar os jardins das casas dos particulares. Não é preciso ser rico para ter uma bonita casa decorada. Os portugueses dão muita importância ao aspeto exterior das suas residências.
Este canto da oficina é reservado às cerâmicas decorativas. Podemos observar aqui a prensa… foi pena que não tive a oportunidade de a ver a funcionar. A oficina é um sitio puramente funcional, reduzida à sua mais simples expressão utilitária: blocos de cimento e chapas de zinco, nada mais.
A roda de oleiro é sem duvida, para o turista comum, o ponto alto do espetáculo. No dia em que viemos, o oleiro não estava na roda, acho que vamos ter que lá voltar 🙂 Podemos ver em baixo um moto elétrico, que faz girar a roda que se encontra no meio da mesa de trabalho. Ainda me lembro do oleiro da aldeia da minha mãe, que, há até pouco tempo, fazia girar a roda com os pés!
Convido-vos a cliquar nas fotos do artigo, para ver os pormenores.
Os nossos amigos oleiros estavam no exterior, a fazer uma das tarefas mais importantes para um bom oleiro: a preparação da matéria prima, o barro. Todas as impurezas têm de ser removidas, todos pedregulhos que poderiam provocar uma catástrofe durante a cozedura do objeto. Este processo também permite obter cerâmicas de uma rara fineza.
Os oleiros utilizam para purificar o barro esta prensa gigante, e muita agua. A argila assim compressa expulsa as impurezas. O trabalho é essencialmente manual, o oleiro devendo estar sempre a molhar a argila conforme seja preciso.
Depois de tratado, o barro é guardado no exterior, protegido das intempéries por plásticos. O bem é precioso, como vos disse no inicio de este artigo, é uma argila reputada em todo o país, de pela sua alta qualidade.
O feitio das tábuas testemunham da sua antiguidade e do peso que tiveram que suportar. Pergunta-se quando é que vão romper…
A ultima etapa do trabalho do oleiro é a pintura e o verniz. Aqui, podemos ver os postos de trabalho, que serviram visivelmente inúmeras vezes. Podemos ver no fundo várias pistolas de pintura.
Vendo estas imagens, a olaria da Bajouca têm belos dias pela frente, conseguindo vender sempre a sua produção nas feiras. O problema, é que já não há muitos jovens que queiram continuar o negócio…