Barcos na Idade Média
Barcos na Idade Média

A importância do mar na Idade Média portuguesa

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A presença do mar em Portugal moldou completamente o território, desde os tempos mais remotos. Na Idade Média, no tempo da Reconquista, a organização nascente do país fez-se tendo em conta o mar, uma organização que ainda hoje nos influencia...

O mar na história da população europeia sempre teve uma importância fundamental. Uma das razões mais evidentes para esta importância é a alimentação que permite. Peixe, conchas ou sal, são tantos elementos que favorecem o estabelecimento de populações humanas à beira mar.

A outra razão, tão ou mais importante, é a facilidade de transporte que permite. Transporte de mercadorias, para o comércio, mas também transporte militar para a conquista de novos territórios. Não esquecemos que já os fenícios vinham por mar fazer comércio com os antepassados dos portugueses.

Mar e Reconquista

Para se controlar o mar, será necessários dois fatores, interligados. O primeiro, a posse de naus, eficazes e em número suficiente. O segundo, a posse de portos onde poder desembarcar. Estes dois fatores vão moldar a costa portuguesa e a organização territorial ao longo da Reconquista, com maior enfase nos primórdios do reino de Portugal.

A organização territorial era dependente da luta dos reinos cristãos do Norte perante o poderio muçulmano do Sul, e da vontade imperiosa de independência do condado portucalense perante Leão e Castela. O mar permitia chegar rapidamente até ao inimigo, mas era para tal necessário ter portos e naus. Construi-se e reforçou-se portos, sendo uma prioridade do poder régio o controlo das vias marítimas e fluviais.

O Reino de Portugal, banhado pelo Oceano, teve a sorte de ter muitos e bons portos marítimos. A facilidade de acesso ao interior do país pelas vias fluviais também ajudou a moldar nos séculos precedentes a fisionomia do país de Dom Dinis.

Quando Afonso Henriques conquistou Lisboa aos muçulmanos em 1147, foi com a ajuda dos cruzados oriundos do Norte da Europa, vindos pelo mar. De facto, esta importante via de comunicação permitiu simplificar a conquista do território português. A conquista de Lisboa abriu novas perspetivas a Afonso Henriques. Acabou por legitimar o seu título de Rex, e deu-lhe um importante controlo sobre as rotas comerciais e um novo porto seguro para a Reconquista.

combate naval
Combate naval

A importância do mar na Reconquista era tal que os fossados, o serviço militar que os vilões (pessoas não nobres) tinham que prestar, podiam ser feitos como soldado em terra, mas também como tripulante de um navio de guerra. Confirmou-se todo o papel do mar na conquista de Silves em 1189, com a chegada rápida de Cruzados por mar.

Mar e economia

A atividade piscatória e o comércio marítimo eram fontes de riqueza para o poder régio. Assim, os primeiros reis favoreceram o estabelecimento de povoamentos ao longo da costa, com o intuito de enriquecer o reino em tempo de paz, e de proteger a “fronteira” marítima. O mar também podia ser uma ameaça física, com o seu avanço sobre as terras. Para esse efeito, plantou-se pinhais durante a segunda metade do século XIII, com destaque para o pinhal de Leiria, ainda hoje parte da paisagem daquela região.

O processo de reorganização territorial corresponde ao reinado de Dom Dinis. Este rei, já sem a necessidade de Reconquista, trabalhou na consolidação do território português. Era preciso doravante proteger o que se tinha conquistado. E tal como o mar serviu para conquistar, também podia ser utilizado para se conquistado.

barcos no Porto
Barcos no Porto, século XVI

Com o tratado de Alcanizes e a paz assegurada com o vizinho terrestre castelhano, o perigo já só podia vir por mar. Para se defender, Dom Dinis empenha-se em criar uma marinha de guerra com reais possibilidades defensivas. Manda reforçar também os castelos e a intensificação do povoamento no Sul do país, sempre com o intuito de proteger a faixa Atlântica do perigo muçulmano, a par da defesa contra Castela no interior. O rei tinha consciência que o seu país era “um país agrologicamente pobre, fitologicamente delapidado e mineralogicamente exausto”

Quando o rei de França, Filipe o Belo consegue extinguir a ordem dos Templários, Dinis não compreende tal decisão. Para Portugal, os conhecimentos marítimos dos Templários eram imprescindíveis. Dinis fará tudo para conservar esta ordem no seu reino, conseguindo a criação da ordem de Cristo, sucessores dos Templários.

A ordem, com o seu extenso património e as suas terras moldou em grande parte Portugal, prefigurando um país com uma configuração toda virada para o mar, o que revelou ser fulcral para o sucesso de Portugal nos Descobrimentos.

Bibliografia

MATTOSO, José dir. – A identidade nacional. Lisboa: Gradiva, 1998


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