Será a igreja mais fotografada do Porto? Com a sua gêmea das Carmelitas, e a casa mais pequena do Porto, é bem capaz!
O Porto é uma cidade mágica, entre rio e oceano, entre a modernidade e a História. Quando se faz um passeio na freguesia de Vitória, vê-se muitas vezes maravilhas da arquitetura, originais e de bom gosto.
É o caso da Igreja do Carmo, que encontra-se colada a outra igreja, a dos Carmelitas, que já tinha aqui abordado no artigo “ Igreja dos Carmelitas”. Esta igreja é facilmente reconhecível, com os seus azulejos, obra monumental na fachada lateral, que representam cenas da fundação da ordem do Carmo.
Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nº Srª do Carmo
Temos que admitir que ver duas igrejas lado à lado, com somente uma “espécie” de prédiozinho de um metro de largura, não é muito comum. Os moradores do bairro ficam com uma grande liberdade de escolha, pergunto-me como é que fazem para escolher qual a missa para assistir ao domingo? A igreja do Carmo tinha sido construída para os Frades da Ordem Terceira, enquanto que a igreja dos Carmelitas, como o nome indica, foi construída para os Frades Carmelitas descalços.
Esta igreja é claramente de estilo Barroco Rococó, influenciada pelos monumentos de Nicolau Nasoni, como a Torre dos Clérigos que encontra-se logo ali ao lado. A igreja foi construída entre 1756 e 1768. É portanto uma igreja perfeitamente integrada no estilo arquitetónico da época, para a nossa maior alegria, tão o século XVIII foi um tempo de grande gosto arquitetural.
O nome oficial da igreja, « Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nº Srª do Carmo » lembra-nos que estamos em presença de uma igreja construída para frades, mesmo ao lado dos carmelitas de pés descalços, que viviam na simplicidade e fraternidade.
Rococó
Para a igreja, a simplicidade não é muito com ela, visto o estilo escolhido: o Barroco Rococó é sem duvida um dos estilos arquiteturais mais ricos e abundantes em pormenores! Toda a igreja está repleta de trabalho esculpido, de ornamentos, que se deve observar cuidadosamente. O Rococó, oriundo da França de Luís XV, soube bem exportar-se fora das suas fronteiras…
Foi um arquiteto português, José de Figueiredo Seixas, natural de Viseu, que se encarregou de construir a nova igreja de granite. Se o barroco teve um tal sucesso na altura, foi em reação ao protestantismo. Segundo os católicos, esta nova de rezar a Deus não dava importância ao espaço físico da igreja, o que provocava igrejas simples, despojadas.
Isto provocou a reação inversa nos católicos: as igrejas ficaram cada vez mais decoradas, para que os fiéis pudessem estarem em contemplação em frente das diferentes imagens do edifício religioso. A nova igreja do Carmo não iria escapar a esta regra do século XVIII. Para mais, calhava bem, Portugal era nessa altura muito rico, do ouro vindo do Brasil: dinheiro que chegava para construir muitas igrejas majestosas.
A meu ver, o que faz a grandeza de esta igreja, não é finalmente o seu estilo Rococó, que podemos de qualquer forma encontrar um pouco por toda essa Europa católica, mas sobretudo o imenso painel de azulejos que se encontra na fachada lateral. É uma obra relativamente recente, do principio do século XX: os azulejos foram postos em 1912.
Silvestre Silvestri, um artista italiano, desenhou esta cena, a imposição do escapulário do Carmo, em relação direta com a fundação da Ordem do Carmo. A Virgem Maria deu a São Simão Stock um escapulário, uma roupa de frade, dizendo-lhe que se ele morresse com esse vestido, ele seria protegido do inferno.
O desenho foi depois executado no azulejo por Carlos Branco, na cidade vizinha de Gaia.
De cada lado da porta principal da igreja, encontramos as estátuas dos profetas Elias e Eliseu. Foram eles que inspiraram a Ordem do Carmo, porque viviam como ermitas numa gruta do monte Carmelo. Tudo em cima, de cada lado da grande cruz, as estátuas dos quatro evangelistas.
O interior da igreja do Carmo, com uma só nave, é de toda a beleza, com o seu teto decorado pelo pintor António Oliveira, com um trabalho fantástico de talha dourada, obra de Francisco Pereira Campanhã, e o seu belo órgão de fabrico inglês de 1880.
O Porto é uma cidade cheia de riquezas para ver e rever, mas é preciso tomar o tempo para as apreciar. Se um dia vier a fazer uma viagem ao Porto, é preciso ouvir este conselho: visite devagar, não há pressa, e tome bem o tempo de aproveitar o instante 🙂