No tempo em que eu era estudante, perguntei a um amigo que naquela altura viajava muito pelo país, qual era para ele a mais bonita cidade de Portugal. Ele não hesitou um segundo: Aveiro.
Não foi preciso mais para que ficasse gravado na minha memória.
Aveiro é uma cidade para visitar e apreciar-se como dever ser. Passear pelos cais, dar uma volta de moliceiro ou simplesmente provar as tradições culinárias desta cidade do Centro são tantos prazeres únicos que valem o desvio, e até mesmo a estadia.
Situação geográfica
Aveiro é a segunda cidade mais importante da região Centro, logo atrás de Coimbra. Fica distante desta cidade por sessenta km, e do Porto de 70 km. Aveiro está assim estrategicamente situada, no eixo Porto-Lisboa, no litoral do país.
Para lá ir, nada mais simples: vai-se de autoestrada. A viajem de comboio também é possível, é uma das paragens obrigatórias da linha do Norte. Assim podemos descobrir a bonita estação de comboios de Aveiro, toda branca com magníficos painéis de azulejos.
O que diferencia principalmente Aveiro das outras cidades, e que lhe valeu a alcunha de “Veneza de Portugal“, é a Ria de Aveiro, que contribui, e de que maneira, à beleza da cidade.
Ria de Aveiro
A Ria de Aveiro é o que se chama um “acidente hidrográfico”. Existem muitos na costa portuguesa: quando o nível do mar baixou alguns séculos atrás, muitas lagoas ficaram. A Ria de Aveiro é composta por inúmeras ilhas, lagoas e canais de todos os tamanhos e feitios, onde vêm desaguar o rio Vouga.
A Ria faz 45 km de comprimento, numa faixa que vai de Ovar a Mira, com Aveiro no meio e Ílhavo não muito longe. Na Ria de Aveiro, faz-se sal, com numerosas salinas, mas também muitos desportos náuticos, o que agrada bastante aos turistas que vieram à descoberta de Portugal.
Mas aqui, não é só lazer ou tradições: o grande porto de Aveiro fica na Ria, com uma intensa actividade industrial e comercial.
Aveiro é uma cidade moderna, que vive com o seu tempo, com as suas ruas largas, os seus prédios modernos e o seu dinamismo comercial e industrial. Mas como qualquer cidade europeia, possui uma História rica, e um património felizmente bem conservado.
Aveiro beneficiou faz alguns anos do ambicioso programa Polis, um programa do Estado para renovar e modernizar as cidades de Portugal. O dinheiro foi aqui muito bem utilizado, tudo foi feito com gosto e inteligência (claro que tenho a certeza que existem algumas vozes criticas, mas enfim…).
História de Aveiro
A primeira vez que ouve-se falar da cidade, ou melhor dizendo, que aparece um testemunho escrito, foi num documento testamentário da condessa de Portucale, Mumadona Dias. No seu testamento, ela doou no ano de 959 ao mosteiro de Guimarães o lugar de “Alaurio“.
Foi só no século XIII que Aveiro obteve o estatuto de Vila. A vila, pela sua situação geográfica, pôde fixar as populações à volta das salinas, da pesca e do comercio marítimo. Aveiro obteve foral em 1515.
No final do século XVI, a comunicação da Ria com o mar era cada vez mais instável, até que acabou por fechar. Sem o seu acesso ao mar, o Porto de Aveiro teve que fechar, logicamente. Este facto provocou a maior crise que Aveiro jamais conheceu. As aguas paradas e a consequente insalubridade provocaram uma diminuição da população aveirense.
Apesar de tudo, em 1759, o rei Dom José eleva a Vila de Aveiro a “Cidade”. Nesta altura, Aveiro foi renomeada de “Nova Bragança“, a pedido de alguns notáveis da cidade. O duque de Aveiro tinha sido condenado por alta traição. Mas como sempre, simples politica não pode ir contra séculos de História e de tradição popular. Aveiro voltou a chamar-se Aveiro pouco tempo depois.
Foi só no inicio do século XIX que o problema da ligação da Ria ao mar foi resolvido. Foram chamados dois engenheiros, o coronel Reinaldo Oudinot e o capitão Luís Gomes de Carvalho, para que conseguissem estabilizar o canal, que se fechava demasiadas vezes. Com a construção da barra em 1808, a Ria de Aveiro voltou a ter um acesso ao mar estável, com o qual se podia contar.
O desenvolvimento dos caminhos de ferro no século XIX, e a sua consequente passagem por Aveiro (em grande parte devido ao grande parlamentar da região José Estêvão Coelho de Magalhães) permitiu à cidade desenvolver-se bastante, até ocupar nos nossos dias um lugar de destaque na economia portuguesa.
Turismo em Aveiro
Aveiro é de facto uma das mais belas cidades de Portugal, mas também uma das mais dinâmicas. A sua situação, na Ria de Aveiro, perto das praias e com a cidade do Porto não muito longe, com o comboio e autoestrada, fazem com que seja certamente uma das cidades mais agradáveis para se viver.
Para se ter uma ideia rápida da cidade, nada melhor do que pegar num autocarro de dois andares, um sightseeing bus : o ultimo andar é aberto, o que permite ver a cidade e fazer fotos giras.
Arquitectura e monumentos
A maioria dos edifícios de Aveiro são recentes (entende-se: menos de dois séculos). Vamos encontrar bastante prédios estilo “Arte Nova”, assim como outros mais tradicionais. A fachadas estão impecáveis, e a calçada portuguesa também.
E muito agradável passear em ruas tão estéticas, onde mesmo o chão é ricamente decorado! Muito das ruas ou praças da cidade estão muito bem preservadas, com desenhos típicos de Portugal, feitos com calçada preta e branca. O aspecto geral da cidade é mesmo muito bonito, muito luminoso.
Os aveirenses fazem questão de conservar e embelezar a sua cidade. Vê-se por exemplo nas fachadas restauradas dos prédios antigos, misturadas com prédios modernos, de vidro e de aço. Um caso típico que está à vista de todos é a antiga fábrica de cerâmica, que foi reconvertida em Centro Cultural.
Mesmo se a cidade não possui grandes monumentos (a não ser talvez a Catedral de Aveiro…), não é uma razão suficiente para não se visitar Aveiro. Aqui, o importante, é o conjunto: toda a cidade é agradável. As pessoas que visitam Aveiro passeiam, admiram os prédios e comem oves moles, especialidade gastronómica da cidade.
Passeio de barco
A principal característica da cidade, é certamente a Ria, esta rede de canais e de ilhas, que se podem visitar de barco. São os famosos moliceiros, barcos tradicionais da região, que serviam antigamente à apanha do moliço, ou seja, as plantas do fundo do mar, ou da ria. O moliço era depois utilizado como adubo na agricultura.
O moliceiro é um pequeno barco colorido, que hoje serve principalmente para transportar turistas na Ria de Aveiro. Claro está, nós aproveitamos! Que tranquilidade, que sossego que este passeio de barco, nos canais da cidade de Aveiro! Descobre-se um pouco da cidade, com os comentários do condutor do barco.
Os canais são bordados por construções muito belas, com palmeiras. Muitas pontes pedonais atravessam os canais, por vezes embelezadas com flores. As flores estão presentes um pouco por toda à parte: vê-se as lâmpadas da cidade enfeitadas com flores!
Aveiro é assim uma cidade com muitos pontos fortes, principalmente se quiser viver ao dia a dia: poderio económico, qualidade de vida, proximidade do Porto e do seu aeroporto, uma Universidade famosa e conceituada. Não falta nada a esta cidade. Além do mais, ela não é invadida por milhares de turistas estrangeiros sedentos por monumentos, visto não haver nenhum de notável. Aveiro, é uma cidade que se vive.