cestos da Ilha
cestos da Ilha

Artesanato : os cestos da Ilha em Pombal – Cestaria de Portugal

Por

A freguesia da Ilha, no concelho de Pombal, é reconhecida em Portugal pelo seu artesanato. A “cooperativa dos cestinhos da Ilha”, onde trabalham várias mulheres já com uma certa idade, mantêm viva a tradição do fabrico de objetos em fibra vegetal entrelaçada, mais conhecida como “cestaria”.

Eu fui à descoberta de esta tradição várias vezes milenar, para vos apresentar o que de maravilhoso estas senhoras conseguem fazer, do cesto ao brinquedo, passando pelas esteiras!

Reserva de bracejo
Reserva de bracejo

A Arte da cestaria

A cestaria é um artesanato muito antigo, cuja origem perde-se em tempos imemoriais. Encontrou-se vestígios de antigos objetos com mais de 10 000 anos, muito anteriores à olaria.

Ainda não se mede muito bem a importância da cestaria ao longo dos tempos. As fibras vegetais, sendo matérias perecíveis, não ficam para a posteridade, não se encontra antigos objetos. Mas podemos afirmar que a cestaria estava presente em todos os aspetos da vida, utilizada no dia a dia.

Diferentes tipos de cestos
Diferentes tipos de cestos

Existem vários métodos para se fazer cestos, várias maneiras de trabalhar as fibras, e muitas variedades de plantas, do muito conhecido vime até à simples palha. Na Ilha, encontra-se principalmente o bracejo, stipa gigantea de seu nome cientifico. Alta de 30 à 80 cm, esta planta encontra-se em áreas muito localizadas: a Ilha têm a sorte de ter muito desta matéria prima para o fabrico dos seus cestos. Se for noutra aldeia da região, pode ser que não encontre nenhum bracejo.

é um trabalho longo
é um trabalho longo

Cestinhos

Para se realizar os diferentes artefactos da cestaria, é preciso de todo um saber ancestral. Primeiro, a matéria prima, o bracejo. Ele têm que ser comprido que chegue para ser trabalhado, resistente para que os artefactos aguentem um uso diário, mas guardando sempre a flexibilidade necessária para poder ser feito em tranças, a base do artesanato de bracejo.

Um burro e a sua carroça
Um burro e a sua carroça

As senhoras, sentadas, fazem tranças com esta fibra vegetal. Todo o trabalho é manual, elas só utilizam escassas ferramentas, que se podem ver nas fotos deste artigo. Um género de banco especial, onde se coloca o bracejo, para facilitar a confeção das tranças, e ferramentas para cortar. A técnica para fazer as tranças em cestaria é ditada antes de mais pelo tipo de fibra vegetal, e a forma do objeto pela sua utilização final. É preciso não esquecer que estes objetos são antes de mais utilitários!

Diferentes objectos de cestaria
Diferentes objectos de cestaria

Com o tempo, a cestaria soube diversificar-se. Passamos do grande cesto antigo que servia para espalhar estrume nas terras ao cestinho para servir de oferta nos casamentos. Os esteirões agora também são decorativos, penduram-se nas paredes, e até mesmo brinquedos são concebidos em bracejo. Pode-se ver nas fotos um burro e a sua carroça 🙂

O futuro da cestaria

As senhoras que encontrei a trabalhar no seu local, um género de casa meio acabada, estavam muito entusiastas em relação ao seu artesanato. Sentia-se o orgulho que elas têm quando explicam que já fizeram várias viagens em Portugal e até mesmo no estrangeiro, para apresentar o artesanato pombalense.

Exposição de cestaria
Exposição de cestaria

Mas quando falam do futuro, o orgulho transforma-se em pena: os jovens já não querem saber de cestaria. As causas, elas conhecem-nas muito bem: mesmo se as jovens raparigas sabem fazer cestos, o investimento pessoal para se dedicar a este artesanato é demasiado grande. O fabrico de um cesto é demasiado lento, não existe qualquer mecanização, é tudo feito à mão.

Não seria um problema se o produto final não fosse vendido tão barato. Calculando, elas chegaram à conclusão que não deviam ganhar mais do que um euro à hora! Como é que se pode querer que os jovens fiquem interessados na cestaria de outra forma do que uma simples ocupação de tempos livres?

Senhora, no fabrico do cesto
Senhora, no fabrico do cesto

O antigo uso, principalmente utilitário, de estes artefactos, foi já à algum tempo substituído por produtos baratos de plástico. É uma concorrência implacável. Existe porém clientes para este artesanato. Eu faço parte das pessoas que preferem ter um cesto de vime para a roupa suja do que um cesto de plástico, faço parte das pessoas que prefere ter um “esteirão” feito à mão do que uma coisa anónima de supermercado, faço parte daquelas pessoas que gostam de ter uma bela peça decorativa na parede do que um simples poster!

Um chapéu feito de bracejo é muito mais valioso e bonito do que o ultimo boné na moda, acho eu…

Cacho de uvas decorativo
Cacho de uvas decorativo

Existe é um desfasamento entre os vendedores, que vendem eles próprios a sua produção nas feiras tradicionais em meio rural, e estes novos clientes, que vivem nas cidades. Estes clientes não encontram os artefactos da cestaria nas lojas da cidade habituais. Penso que quando encontrarmos a solução, a cestaria vai ter o seu futuro assegurado, com longos e belos dias pela frente, e terá até que enfim o lugar que merece, ao lado da olaria.

Grande cesto
Grande cesto

Contrariamente à olaria, da qual temos muitos vestígios antigos, onde se pôde simplificar o modo de produção, a cestaria ficou basicamente a mesma do que há milhares de anos. Não existe um grande museu que exibe peças de fibras vegetais, a não ser de maneira episódica. Mas é uma tradição popular característica de uma região, um imenso património cultural, que guarda a identidade de uma aldeia, de um povo.

Fazem-se tranças para os cestos
Fazem-se tranças para os cestos
Local de trabalho das cesteiras
Local de trabalho das cesteiras
Cestos de todos os feitios
Cestos de todos os feitios

Conversa

Ler também