A minúcia e a precisão das joias de filigrana fazem sonhar. Com um fio de ouro ou de prata, os artesãos criam peças únicas, intimamente portuguesas.
Temos todos em mente as mulheres do Norte, que envergam com orgulho as suas joias de ouro com as suas vestes tradicionais. Estas peças de ourivesaria são na sua maioria, realizações em filigrana, tipicamente portuguesas. O “Coração de Viana do Castelo” é inconfundível há vários séculos…
A filigrana é uma técnica de ourivesaria conhecida desde os tempos mais remotos. Já existia há mais de 2000 anos nos castros do norte de Portugal.
Desenvolvida ao longo dos séculos, a filigrana foi progressivamente abandonada pela maioria dos ourives europeus, menos em Portugal. O país tinha desenvolvido um gosto especial por esta técnica de ourivesaria, os seus artesãos sendo cada vez mais hábeis e criativos.
O norte de Portugal com a sua indústria mineira era um terreno fértil desde os tempos mais remotos para a criatividade dos ourives, sempre confirmada até hoje. A Póvoa de Lanhoso, no Minho, é uma vila notável da filigrana, merecendo amplamente o seu título de capital do ouro português…
A filigrana, uma história de paciência…
O trabalho da filigrana é longo e pouco lucrativo para os artesãos. Por isso, muitos escolhem de não fazer sequer filigrana, preferindo concentrarem-se em joias mais clássicas ou contemporâneas.
Apesar da beleza reconhecida das peças, o conhecimento e a técnica estava em risco de se perder, por falta de jovens querendo seguir as pisadas dos mais velhos. Foi neste sentido que a cidade de Gondomar, para sempre associada à filigrana, investiu na proteção e na promoção da sua Arte.
A escola CINDOR nasceu desta iniciativa em 1984. Integrada desde 2016 no percurso turístico a “Rota da Filigrana“, é aqui que se vem descobrir as técnicas para a criação desta ourivesaria um pouco diferente…
Gondomar, tal como a Póvoa de Lanhoso, apresentam nos seus brasões filigrana, marcando assim as suas ligações para com esta arte antiga.
Pequenos fabricantes
Hoje em dia, a produção ainda é confidencial e familiar. São pequenos ateliers, onde não se pode produzir em larga escala. Podemos visitar a maioria dos fabricantes de Gondomar, pela Rota da Filigrana. Eles abrem com muito gosto os ateliers, mostrando com orgulho os seus conhecimentos.
E que conhecimentos !
Depois de se ter puxado o fio, para o ajustar ao bom tamanho, tem que ser torcido delicadamente. Depois, cria-se o “esqueleto” da peça, que será preenchido com fios mais finos. A soldadura é uma etapa essencial, permitindo a criação de peças grandes, guardando sempre uma ligeireza admirável do metal precioso.
A filigrana é um artesanato simultaneamente elitista e popular. Quando a rainha Dona Maria no século XVIII quis agradecer a Deus de lhe ter dado um filho, encomendou uma peça como nunca se tinha visto uma igual antes. Um coração de filigrana consagrado ao Sagrado Coração de Jesus. O Coração de Viana do Castelo tinha nascido. Esta ourivesaria, antigamente quase toda dedicada à Arte Sacra, iria doravante ser mais próxima do povo, uma arte agora “nacional”. No século XIX, a filigrana, outrora simples técnica decorativa de joias, passou a produzir peças por direito próprio, exclusivamente de filigrana.
No nosso século, celebridades mundiais envergam, por gosto, estas joias portuguesas. Sharon Stone gosta do seu Coração de Viana, enquanto que a princesa Mary da Dinamarca possui Brincos à Rainha. Que adequado para uma princesa!
Fontes
- Filigrana de Gondomar: o percurso da arte tradicional gondomarense dos tempos remotos até à contemporaneidade
- Sociedade Martins Sarmento
- Rota da filigrana