Ourém, cidade do centro de Portugal, é uma pequena cidade, mais com História!
Quando eu fazia o trajeto de casa dos meus pais em Pombal até o meu politécnico em Tomar, eu tinha que passar por Ourém. O que impressiona mais quando se chega de carro pela nacional 113 a Ourém, é o castelo.
O castelo é visível de muito longe, dominando toda a região, forte e orgulhoso. Nunca lá tinha ido, aproveitei as férias para (até que enfim) visitar esta obra prima da arquitetura medieval.
De Vila a Cidade
A “Vila Nova de Ourém” transformou-se em “Cidade de Ourém” em 1991. Este titulo honorifico é o símbolo do dinamismo da cidade, uma das mais importantes da região doravante. Antes do século 19, a cidade estava limitada às casas que estavam perto do castelo, lá em cima do monte.
Foi em 1841 que a câmara municipal passou desta cidade velha ao vale, a parte nova da cidade atual. A distinção é muito clara entre as “duas” cidades, claramente separadas, já que o monte tem um declive demasiadamente pronunciado para que se possa lá construir com facilidade. Esta característica protegeu a cidade velha, que respira ainda o antigo, quase intacto. É um verdadeiro retorno ao passado quando se passeia pelas antigas ruas de Ourém.
Mas não vá pensar que a cidade está ao abandono: ela nunca deixou de ter um forte dinamismo, e é sempre habitada. Por exemplo, ouvi musica nas ruas, a banda filarmónica da cidade estava a repetir…
Montes e colinas
A vista incrível que temos lá de cima sobre a região permite distinguir muitas eólicas nos montes lá longe no horizonte. Estas eólicas estão um pouco por toda à parte na região de Leiria: há já bastante tempo que Portugal aposta nas energias renováveis para se fornecer em eletricidade. Visto de longe, até as acho bastante estéticas (de perto, muito menos…).
Talvez o que fez as pessoas ficarem na cidade velha, é a vista deslumbrante que temos? É incrível ter um panorama assim. Estávamos no final do dia, como pode ver nas fotografias, e apesar disso, o nosso olhar conseguia ver até muito longe. Percebe-se logo o interesse estratégico de uma localização destas, se ainda por cima lhe juntarmos um rio.
As pequenas casas brancas, a cidade moderna lá em baixo, o pôr do sol que pinta as nuvens do céu com mil cores douradas, sem falar na floresta presente por toda à parte: sim, vale mesmo a pena ter que “escalar” o monte para ver isto!
A cidade conheceu duas enormes catástrofes na sua história, que estragaram, e muito, o seu património: o terramoto de 1755, e as guerras napoleónicas, com as invasões de Massena em 1810. É preciso acreditar que fizeram um esplêndido trabalho de restauro, o castelo é magnifico, adorava o ver quando estava no apogeu do seu esplendor.
Castelo de Ourém
Tenho que pedir desculpa pela fraca qualidade de algumas fotos. Sim porque quando já não se tem bateria com a sua maquina fotográfica normal, temos que nos desenrascar com o telemóvel. Até não são assim tão más, para fotos que ainda por cima foram tiradas no final do dia, com pouca luz. Tenho que admitir que a majestade do sitio ajudou muito para fazer fotos corretas.
Acho o castelo muito bonito, ao cair da noite, com a iluminação. Acho que este monumento, com o pôr do sol, tem qualquer coisa de mágico. Há que ter cuidado apesar de toda a magia quando se passeia nas torres: não existe qualquer tipo de proteção, uma queda do alto de uma das torres seria fatal de certeza. Outras partes do castelo, como a torre de menagem, não estão tão bem conservadas como as duas torres que podemos ver hoje, construídas por volta de 1450.
Os telhados de madeira desapareceram, e não seria uma fortuna incrível que de por outra vez um telhado ao castelo, para por exemplo permitir a revalorização do espaço, transformando-o em museu. Enfim, digo isto, mas eu sou partidário das reconstruções de antigos monumentos, respeitando a arquitetura original, claro, em vez de ter um monte de ruinas, mesmo bem conservadas.
A torre de menagem é apesar de tudo fantástica, perco-me em superlativos desde o principio deste artigo. A passagem que pode ver à esquerda era, ao que se diz, uma antiga passagem secreta. Este castelo possui uma característica única em Portugal: a utilização de tijolo encarnado, um pouco ao estilo de Veneza.
Cidade Velha
Ourém merece mesmo que se perca por lá um pouco de tempo. Se um dia for a Fátima, saiba que o santuário faz parte do concelho de Ourém, não fica nada longe, merece sem dúvida um pequeno desvio!
Repare por exemplo nesta casinha, logo ao lado do castelo, com a torre sineira da igreja ao fundo, por detrás da arvore: eles fazem crescer as couves no meio da cidade antiga, assim, sem mais nem menos. Como se fazia muito certamente na Idade Média. Pergunto-me que idade têm o muro que separa a casinha da horta do vizinho…
Uma das portas principais da antiga cidade medieval, que parece tão pequena nestes muros tão imponentes.
O nome das ruas, sempre tão orgulhosamente indicado nas suas placas de pedra.
A porta da cidade velha, vista do interior. Os carros passam por aqui, sem problemas. As pessoas vêm até aqui com os seus veículos, sem problemas, apesar do declive muito pronunciado (somos forçados de meter a primeira mudança!). Dá para notar a porta da garagem à esquerda da foto, o que demonstra bem que por aqui, os carros passam.
Na cidade velha fica a igreja da Colegiada. Não consegui entrar na igreja, já estava fechada por estas horas tão tardias. É pena, porque é uma igreja reconhecida pela sua cripta. Mais uma coisa que vamos ter que fazer nas próximas férias… Admirarei sempre o incrível esforço que deve ter sido necessário para construir estes edifícios, em lugares tão altos e inacessíveis.
A entrada do cemitério, com as suas paredes que já foram brancas. Acho engraçado pensar no cortejo fúnebre e o carro que têm que subir o monte, em primeira… peço-me como é que eles fazem? Repare nos pormenores da porta de ferro do cemitério, onde pode ver as diferentes ferramentas que serviram para torturar Jesus.
O cemitério está impecável. Tenho as minhas duvidas em relação às antenas de telefonia diversas que podemos encontrar logo ao lado do cemitério, que pode ver na foto. Sabemos que os mortos não se arriscam muito com um cancro, mais… é feio e principalmente fora de contexto. Enfim… talvez não para aqueles que querem telefonar.
Existe bastante casas em mau estado na cidade velha de Ourém. Se bem percebo, esta casa foi construída diretamente na muralha?
Uma pequena pausa no meio de tantas pedras velhas: aqui está um urinol na mais pura tradição salazarista do que era “bem publico”. São urinóis de mármore, pedra comum na região. Achei bem práticos estes urinóis públicos na cidade velha!
Nas paredes, nota-se a presença discreta de azulejos. As persianas das janelas estão no interior das casas, o que afinal até é boa ideia, não somos obrigados a abrir as janelas para fechar as persianas e fazer entrar o frio pela casa dentro.
Esta pequena praça, com a sua fonte e a fantástica vista panorâmica que se adivinha na foto convida ao descanso, é certo. Gostei dos passeios em ziguezague, mas é um pouco frustrante quando estamos acostumados ao caminho mais curto.
Se quiser ver esta cidade e aproveitar a grande tranquilidade que lá existe, aconselho-vos a Pousada de Ourém, que fica na cidade velha, construída numa antiga casa medieval, mas com todo o conforto moderno. Dizem que nota-se do miradouro o santuário de Fátima e o esplendido Vale da Ribeira do Rio Seiça, vale mesmo a pena!